Arquivos Mensais: agosto \24\America/Bahia 2011

Oração a mim mesmo

Que eu me permita olhar, escutar e sonhar mais.

Falar menos.

Chorar menos.

Ver nos olhos de quem me vê a admiração que eles me têm e não a inveja que prepotentemente penso que têm.

Escutar com meus ouvidos atentos e minha boca estática, as palavras que se fazem gestos e os gestos que se fazem palavras.Permitir sempre escutar aquilo que eu não tenho me permitido escutar.

Saber realizar os sonhos que nascem em mim e por mim e comigo morrem por eu não os saber sonhos.

Então, que eu possa viver os sonhos possíveis e os impossíveis; aqueles que morrem e ressuscitam cada novo fruto, a cada nova flor, a cada novo calor, a cada nova geada, a cada novo dia.

Que eu possa sonhar o ar,sonhar o mar, sonhar o amar, sonhar o amalgamar.

Que eu me permita o silêncio das formas, dos movimentos, do impossível, da imensidão de toda profundeza.

Que eu possa substituir minhas palavras pelo toque, pelo sentir, pelo compreender, pelo segredo das coisas mais raras, pela oração mental (aquela que a alma cria e que só ela, alma, ouve e só ela, alma, responde).

Que eu saiba dimensionar o calor, experimentar a forma, vislumbrar as curvas, desenhar as retas e aprender o sabor da exuberância que se mostra nas pequenas manifestações da vida.

Que eu saiba reproduzir na alma a imagem que entra pelos meus olhos fazendo-me parte suprema da natureza, criando-me e recriando-me a cada instante.

Que eu possa chorar menos de tristeza e mais de contentamentos. Que meu choro não seja em vão, que em vão não seja minhas dúvidas.

Que eu saiba perder meus caminhos mas saiba recuperar meus destinos com dignidade.

Que eu não tenha medo de nada, principalmente de mim mesmo: Que eu não tenha medo de meus medos!

Que eu adormeça toda vez que for derramar lágrimas inúteis, e desperte com o coração cheio de esperanças.

Que eu faça de mim um homem sereno dentro de minha própria turbulência;

Sábio dentro de meus limites pequenos e inexatos, humilde diante de minhas grandezas tolas e ingênuas (que eu me mostre o quanto são pequenas minhas grandezas e o quanto é valiosa minha pequenez).

Que eu me permita ser mãe, ser pai,e, se for preciso, ser órfão.

Permita-me eu ensinar o pouco que sei e aprender o muito que não sei, traduzir o que os mestres ensinaram e compreender a alegria com que os simples traduzem suas experiências;

Respeitar incondicionalmente o ser; O ser por si só, por mais nada que possa ter além de sua essência,

Auxiliar a solidão de quem chegou, render-me ao motivo de quem partiu e aceitar a saudade de quem ficou.

Que eu possa amar e ser amado. Que eu possa amar mesmo sem ser amado, fazer gentilezas quando recebo carinhos;

Fazer carinhos mesmo quando não recebo gentilezas. Que eu jamais fique só, mesmo quando eu me queira só.

Amém.

– Oswaldo Antônio Begiato

Pato Fu – Antes Que Seja Tarde

 

olha, não sou daqui
me diga onde estou
não há tempo não há nada
que me faça ser quem sou
mas sem parar pra pensar
sigo estradas,sigo pistas pra me achar

nunca sei o que se passa
com as manias do lugar
porque sempre parto antes que comece a gostar
de ser igual, qualquer um
me sentir mais uma peça no final
cometendo um erro bobo, decimal

na verdade continuo sob a mesma condição
distraindo a verdade, enganando o coração

pelas minhas trilhas você perde a direção
não há placa nem pessoas informando aonde vão
penso outra vez estou sem meus amigos
e retomo a porta aberta dos perigos

na verdade continuo sob a mesma condição
distraindo a verdade, enganando o coração

 

As Sete Maravilhas de Salvador

Excelente texto de Nelson Cadena… Reproduzo aqui:

Lagoa do Abaeté, Elevador Lacerda e Pelourinho já eram. Esses cartões-postais não mais existem a não ser no imaginário dos turistas. Os baianos estão carecas de saber que o sujeito arrisca-se a encontrar as cabines do elevador em manutenção, ou os funcionários em greve, e o Pelô, quem se atreve a ir hoje em dia? O Pelourinho deixou de ser um atrativo turístico, relegado ao abandono do poder público, assim como a Lagoa do Abaeté que não mais é a lagoa escura arrodeada de areia branca de Caymmi. Está na hora de renovarmos os cartões-postais da cidade e nessa iniciativa sugiro, como Sidon que elencou as Sete Maravilhas do mundo antigo, nomear as Sete Maravilhas de Salvador. Sete monumentos que são extra-ORDINÁRIOS no sentido de diferenciados pelo seu contexto de serviços para lá de inusitado.
A primeira maravilha seria o Metrô que me parece é hoje o maior atrativo turístico da cidade, cartão-postal para a Bahiatursa incluir nos seus roteiros com guias especializados informando aos visitantes como foi possível torrar um bilhão de reais para erguer seis quilômetros de colunas de concreto e estações esquisitas e como tudo isso aconteceu sob o olhar complacente e displicente de autoridades de todos os poderes. E então promover viagens de helicóptero para conferir de perto o eterno canteiro e fotografar as obras sem fim, no clima de trilha sonora da musica ‘Otário’ de Cássia Eller.

 A segunda maravilha de Salvador poderia ser o Rio Lucaia, que corre majestoso entre as proximidades da praia do Jardim de Alá e o Rio Vermelho e tem o seu ponto de observação mais nobre, atrativo turístico, na passarela entre a rodoviária e o Iguatemi. Quem vê nunca esquece e, se respira fundo, inalando ar nos pulmões, não esquece mesmo. A terceira maravilha proponho seja a Praça Cayru com os seus casarões centenários equilibrando-se entre andaimes e estacas (um desafio às leis da engenharia) e a imponência clássica das ruínas do sobrado azulejado que um dia foi ponto de venda de uma rede de supermercados.

 A quarta maravilha de Salvador, essa sugestão é de graça, deve ser a Estação da Lapa. Em nenhum lugar do mundo se construiu algo mais sinistro e o roteiro turístico poderia priorizar a observação dos usuários se acotovelando para subir no coletivo e as ferrugens expostas, em registros fotográficos impagáveis. Cartão-postal da orla de Salvador, a quinta maravilha poderia ser o Aeroclube, também um monumento sem referência em outro lugar do planeta. Na península do Yucatán, no México, os turistas admiram as ruínas das pirâmides Maias; aqui podemos exibir as ruínas de um parque que nunca existiu e do projeto de shopping que cada vez mais se aproxima da proposta original de ser um empreendimento a céu aberto. E bote aberto nisso. 
A sexta maravilha sugiro seja a frota do sistema de ferryboats: sucata sujeita a ficar à deriva no mar. Nenhum outro serviço congênere nos oferece a possibilidade de uma aventura com essa dose de adrenalina. Os turistas poderão fotografar as ondas batendo no convés, ou os banheiros sem igual no imaginário do terceiro mundo e ainda se deliciar com os ‘ótimos’ petiscos da cantina. E se tiverem sorte poderão apreciar a queda de um carro na água. A sétima maravilha, essa deixei para o final de propósito, recomendo seja o Parque de São Bartolomeu com o diferencial de mata atlântica fétida, rios de espuma desaguando próximo de bares ruidosos, com suas putas alegres e malandros bebendo todas e fumando maconha; ‘patrimônio ambiental’ para mostrar ao mundo o tamanho de nossa burrice.

Afinal, somos diferentes. Em nenhum outro lugar o poder público desafia a natureza com tamanha competência. É o limite da irresponsabilidade e essa noção sem limite já é um bom pretexto para exibir o nosso topete.

Fonte -> http://www.correio24horas.com.br/colunistas/detalhes/artigo/nelson-cadena-as-sete-maravilhas-de-salvador/

Tolerância

Vejo ‘dia do orgulho gay’ , ‘ dia do orgulho hetero’, passeata evangélica,passeata cristã,passeata daquilo, nomenclaturas cada vez mais dificieis de gravar e entender (antes era só GLS, agora a sigla tem quase 10 letras) e tudo me parece um modismo exagerado. Tenho uma amiga que sempre diz que daqui a um tempo, quem é hetero terá que falar quase sussurrando. Começo a achar que ela tem uma certa razão. Infelizmente. Pouco me importa com quem as pessoas dormem ou escolhem para dividir a vida e amar. Isso não deveria ser motivo de tanta ‘revolução exagerada’. Faz parte da vida PESSOAL e PARTICULAR de cada um.

Ao invés de cartilhas sobre homossexualismo, deveriam ensinar as pessoas o respeito e a tolerância pelas diferenças. Não importa que fulano é preto, branco, amarelo,judeu, ateu, cristão, evangélico ou se quando chega em casa, tem Maria ou João o esperando. O que importa é se a pessoa é honesta, se tem caráter, se é uma pessoa digna.

Às vezes me sinto deslocada no meu próprio mundo, como se eu não fizesse parte de tudo que leio e ouço. É inconcebivel que um ser humano mate somente porque não acredita/ pensa/ sente da mesma forma que outro.

De resto, é tudo muito ‘demais’. E educação, de MENOS. Ninguém precisa ‘afirmar’ ou ‘reafirmar’ sua sexualidade ‘atacando’ seu par de forma vulgar na rua. É feio e desnecessário, independente de ser um casal gay ou hetero. Acho que as pessoas esqueceram aquele velho ditado: MEU DIREITO TERMINA QUANDO COMEÇA O DO VIZINHO. Se cada um cuidasse menos da vida alheia e focasse na própria vida, no próprio umbigo, metade dos problemas não existiriam. Tenho pavor daquelas pessoas que chegam primeiro dando uma carteirada tipo ‘sou gay’ para depois dizer a que veio. Se continuar desse jeito, em um futuro não tão distante, em um curriculo primeiro será perguntado a opção sexual,e só por último a qualificação profissional da pessoa. Parece que os valores estão invertidos,entende ? Não importa mais se a pessoa é formado,se é competente, se trabalha, se paga suas contas, se é companheiro, amigo, parceiro. O que importa é se é gay ou não.

A sociedade precisa urgentemente praticar a tolerância ( tolerância, do latim tolerare (sustentar, suportar), é um termo que define o grau de aceitação diante de um elemento contrário a uma regra moral, cultural, civil ou física. Do ponto de vista da sociedade, a tolerância define a capacidade de uma pessoa ou grupo social de aceitar, noutra pessoa ou grupo social, uma atitude diferente das que são a norma no seu próprio grupo. Numa concepção moderna é também a atitude pessoal e comunitária face a valores diferentes daqueles adotados pelo grupo de pertença original. Fonte : Wikipédia)

Ninguém é obrigado a aceitar a posição religiosa ou sexual de alguém, mas é sim, obrigado a RESPEITAR. E esse respeito tem que vir de todos os lados, a começar de dentro de casa.