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Violência Doméstica

   

    A gente sabe. No fundo a gente sempre sabe.Mas por que algumas pessoas simplesmente não acendem o pisca alerta quando começam a notar os sinais? As histórias basicamente são iguais, muda uma nuance ou outra. Mês passado, aguardando ser chamada para o médico ver minha filha que estava doente,haviam 3 mulheres sentadas, e elas contavam suas histórias e eu ouvia,calada,e pensava: ‘ Mas por que diabos elas não caíram fora quando começou?’ Violência doméstica. Não consigo entender. Ninguém vai dormir com um anjo e acorda no outro dia com um demônio na cama. A coisa toda vai acontecendo aos poucos e as tragédias acontecem quando os sinais ficam tão evidentes que acaba sendo tarde demais.

    Os sinais … são tão claros mas distorcidos em meio a tantas desculpas, não as que o agressor dá, mas que a própria vitima cria como explicação para a violência. Tudo começa com um empurrão, ou um gesto mais rude. Aí vem depois a explicação ‘foi o calor do momento, me perdoe não irá mais acontecer,te amo, jamais te faria qualquer mal’. Ele é perdoado, mas o pisca alerta não é acendido. Costuma-se passar uma borracha no assunto. Até a próxima discussão. Com ele,o empurrão fica um pouco mais violento, às vezes acompanhado de xingamento ou por palavras que magoam bem lá no fundo, como um soco no estômago. Mais uma vez vem as desculpas, e mais uma vez se é passada a borracha. E o pisca alerta continua apagado, porque foi criado um mecanismo de querer acreditar na desculpa dada. O próximo passo são as pequenas violências físicas, o pulso machucado por uma sacudida mais forte, o bofetão. E mais desculpas. Daí em diante,o respeito já foi pelo ralo, a coisa saiu do controle. Por que existem pessoas que insistem em permanecer em relações doentias? Ausência de amor próprio? Ausência de auto estima?

    Nenhuma violência deve ser tolerada, nem as mais simples. Se o seu atual namorado/marido/ficante bateu ou agrediu alguma ex, a chance dele cometer o mesmo erro com você, será muito grande e nada nesse mundo vale correr o risco. Não importa o motivo, não importa a desculpa.Só porque ele disse que ela não prestava ou que estava de cabeça quente ou qualquer outra desculpa que ele dará para justificar o ato. Se afaste.

    Se a família avisa que o homem não presta, se os amigos mais próximos avisam que o cara não presta,por que não abrir os dois olhos gigantemente,do que achar que o universo conspira de ciúme e inveja de você ?

    O problema é que quando essas mulheres caem na real e decidem agir dando um ponto final, infelizmente a história já está tão bizarra que nada mais pode ser feito. E o resultado disso são as histórias diárias de mulheres assassinadas ou com marcas tão profundas( não somente as físicas) que não cicatrizam mais.

   Em pensar que muitos casos desses poderiam nem ter acontecido, se essas mulheres resolvessem apenas prestar atenção aos sinais…

As Sete Maravilhas de Salvador

Excelente texto de Nelson Cadena… Reproduzo aqui:

Lagoa do Abaeté, Elevador Lacerda e Pelourinho já eram. Esses cartões-postais não mais existem a não ser no imaginário dos turistas. Os baianos estão carecas de saber que o sujeito arrisca-se a encontrar as cabines do elevador em manutenção, ou os funcionários em greve, e o Pelô, quem se atreve a ir hoje em dia? O Pelourinho deixou de ser um atrativo turístico, relegado ao abandono do poder público, assim como a Lagoa do Abaeté que não mais é a lagoa escura arrodeada de areia branca de Caymmi. Está na hora de renovarmos os cartões-postais da cidade e nessa iniciativa sugiro, como Sidon que elencou as Sete Maravilhas do mundo antigo, nomear as Sete Maravilhas de Salvador. Sete monumentos que são extra-ORDINÁRIOS no sentido de diferenciados pelo seu contexto de serviços para lá de inusitado.
A primeira maravilha seria o Metrô que me parece é hoje o maior atrativo turístico da cidade, cartão-postal para a Bahiatursa incluir nos seus roteiros com guias especializados informando aos visitantes como foi possível torrar um bilhão de reais para erguer seis quilômetros de colunas de concreto e estações esquisitas e como tudo isso aconteceu sob o olhar complacente e displicente de autoridades de todos os poderes. E então promover viagens de helicóptero para conferir de perto o eterno canteiro e fotografar as obras sem fim, no clima de trilha sonora da musica ‘Otário’ de Cássia Eller.

 A segunda maravilha de Salvador poderia ser o Rio Lucaia, que corre majestoso entre as proximidades da praia do Jardim de Alá e o Rio Vermelho e tem o seu ponto de observação mais nobre, atrativo turístico, na passarela entre a rodoviária e o Iguatemi. Quem vê nunca esquece e, se respira fundo, inalando ar nos pulmões, não esquece mesmo. A terceira maravilha proponho seja a Praça Cayru com os seus casarões centenários equilibrando-se entre andaimes e estacas (um desafio às leis da engenharia) e a imponência clássica das ruínas do sobrado azulejado que um dia foi ponto de venda de uma rede de supermercados.

 A quarta maravilha de Salvador, essa sugestão é de graça, deve ser a Estação da Lapa. Em nenhum lugar do mundo se construiu algo mais sinistro e o roteiro turístico poderia priorizar a observação dos usuários se acotovelando para subir no coletivo e as ferrugens expostas, em registros fotográficos impagáveis. Cartão-postal da orla de Salvador, a quinta maravilha poderia ser o Aeroclube, também um monumento sem referência em outro lugar do planeta. Na península do Yucatán, no México, os turistas admiram as ruínas das pirâmides Maias; aqui podemos exibir as ruínas de um parque que nunca existiu e do projeto de shopping que cada vez mais se aproxima da proposta original de ser um empreendimento a céu aberto. E bote aberto nisso. 
A sexta maravilha sugiro seja a frota do sistema de ferryboats: sucata sujeita a ficar à deriva no mar. Nenhum outro serviço congênere nos oferece a possibilidade de uma aventura com essa dose de adrenalina. Os turistas poderão fotografar as ondas batendo no convés, ou os banheiros sem igual no imaginário do terceiro mundo e ainda se deliciar com os ‘ótimos’ petiscos da cantina. E se tiverem sorte poderão apreciar a queda de um carro na água. A sétima maravilha, essa deixei para o final de propósito, recomendo seja o Parque de São Bartolomeu com o diferencial de mata atlântica fétida, rios de espuma desaguando próximo de bares ruidosos, com suas putas alegres e malandros bebendo todas e fumando maconha; ‘patrimônio ambiental’ para mostrar ao mundo o tamanho de nossa burrice.

Afinal, somos diferentes. Em nenhum outro lugar o poder público desafia a natureza com tamanha competência. É o limite da irresponsabilidade e essa noção sem limite já é um bom pretexto para exibir o nosso topete.

Fonte -> http://www.correio24horas.com.br/colunistas/detalhes/artigo/nelson-cadena-as-sete-maravilhas-de-salvador/

Tolerância

Vejo ‘dia do orgulho gay’ , ‘ dia do orgulho hetero’, passeata evangélica,passeata cristã,passeata daquilo, nomenclaturas cada vez mais dificieis de gravar e entender (antes era só GLS, agora a sigla tem quase 10 letras) e tudo me parece um modismo exagerado. Tenho uma amiga que sempre diz que daqui a um tempo, quem é hetero terá que falar quase sussurrando. Começo a achar que ela tem uma certa razão. Infelizmente. Pouco me importa com quem as pessoas dormem ou escolhem para dividir a vida e amar. Isso não deveria ser motivo de tanta ‘revolução exagerada’. Faz parte da vida PESSOAL e PARTICULAR de cada um.

Ao invés de cartilhas sobre homossexualismo, deveriam ensinar as pessoas o respeito e a tolerância pelas diferenças. Não importa que fulano é preto, branco, amarelo,judeu, ateu, cristão, evangélico ou se quando chega em casa, tem Maria ou João o esperando. O que importa é se a pessoa é honesta, se tem caráter, se é uma pessoa digna.

Às vezes me sinto deslocada no meu próprio mundo, como se eu não fizesse parte de tudo que leio e ouço. É inconcebivel que um ser humano mate somente porque não acredita/ pensa/ sente da mesma forma que outro.

De resto, é tudo muito ‘demais’. E educação, de MENOS. Ninguém precisa ‘afirmar’ ou ‘reafirmar’ sua sexualidade ‘atacando’ seu par de forma vulgar na rua. É feio e desnecessário, independente de ser um casal gay ou hetero. Acho que as pessoas esqueceram aquele velho ditado: MEU DIREITO TERMINA QUANDO COMEÇA O DO VIZINHO. Se cada um cuidasse menos da vida alheia e focasse na própria vida, no próprio umbigo, metade dos problemas não existiriam. Tenho pavor daquelas pessoas que chegam primeiro dando uma carteirada tipo ‘sou gay’ para depois dizer a que veio. Se continuar desse jeito, em um futuro não tão distante, em um curriculo primeiro será perguntado a opção sexual,e só por último a qualificação profissional da pessoa. Parece que os valores estão invertidos,entende ? Não importa mais se a pessoa é formado,se é competente, se trabalha, se paga suas contas, se é companheiro, amigo, parceiro. O que importa é se é gay ou não.

A sociedade precisa urgentemente praticar a tolerância ( tolerância, do latim tolerare (sustentar, suportar), é um termo que define o grau de aceitação diante de um elemento contrário a uma regra moral, cultural, civil ou física. Do ponto de vista da sociedade, a tolerância define a capacidade de uma pessoa ou grupo social de aceitar, noutra pessoa ou grupo social, uma atitude diferente das que são a norma no seu próprio grupo. Numa concepção moderna é também a atitude pessoal e comunitária face a valores diferentes daqueles adotados pelo grupo de pertença original. Fonte : Wikipédia)

Ninguém é obrigado a aceitar a posição religiosa ou sexual de alguém, mas é sim, obrigado a RESPEITAR. E esse respeito tem que vir de todos os lados, a começar de dentro de casa.

Amy e o surto de hipocrisia coletiva

Achei esse texto muito bom. Segue aqui a integra :

” Engraçado como um fato vem, de vez em quando, botar as coisas em perspectiva.

Amy Winehouse morreu. De verdade. Fato.

Acabou o reality show macabro de sua vida. Nenhum fã vai poder aplaudir de novo quando ela chegar ao palco bêbada, ou quando esfregar as costas da mão no nariz, como se tivesse acabado de dar um teco.

Ontem, a mãe de Amy, Janis, disse aos jornais: “A morte dela era apenas uma questão de tempo. Pouco depois, a família Winehouse divulgou uma nota à imprensa, pedindo “privacidade”.

Curioso: a mesma família que pede privacidade é a que passou os últimos anos dando entrevistas a programas de TV sensacionalistas, como fez o pai de Amy, Mitchell.

A verdade é que a vida de Amy Winehouse foi uma espécie de farsa trágica, acompanhada em tempo real pelos fãs e pela mídia.

Amy não foi uma vítima. Era maior de idade e sabia muito bem o que estava fazendo.

Era uma pessoa doente e que precisava de tratamento.

Infelizmente, muita gente dependia dela. Celebridades não têm tempo para se tratar, porque não podem simplesmente desaparecer.

Uma das coisas mais sensatas que ouvi sobre o caso de Amy veio do médico norte-americano Drew Pinsky, especialista em tratamento de viciados. “Uma pessoa que chega ao estágio em que Amy chegou precisa de muitos meses de tratamento só para recuperar a consciência de que precisa se tratar”, disse. “Só que ela é uma celebridade, de quem muitas pessoas dependem para ganhar dinheiro, e parar de trabalhar é a última prioridade”.

Pisnky citou, como caso de recuperação bem sucedida, o ator Robert Downey Jr.: “Ele fez o certo: sumiu de cena por dois ou três anos, completou seu tratamento, e depois retornou à vida pública”.

Ironicamente, Pinsky é apresentador de “Celebrity Rehab with Doctor Drew”, um programa de TV dos mais apelativos, em que subcelebridades tentam se livrar do vício em drogas e álcool.

Diz muito sobre nós que a pessoa convidada para “iluminar” o caso de uma celebridade junkie seja, ela mesma, uma celebridade.

Sempre defendi aqui que a mídia é um espelho da sociedade. A mídia não cria, ela replica o sentimento coletivo.

Se existem repórteres e “paparazzi” que viviam perseguindo Amy, é porque há uma multidão de consumidores, babando por informações sobre a cantora, por mais inócuas que fossem.

E se outras junkies talentosas como Bille Holiday ou Janis Joplin tivessem vivido durante a era do Youtube, garanto que haveria um site como http://www.when willbillieholidaydie. Sinal dos tempos.

Escrito por André Barcinski às 10h40 – 25/07/2011″

Link da reportagem -> http://andrebarcinski.folha.blog.uol.com.br/

Inversão de Valores

“(…)o que está acontecendo? O mundo está ao contrário e ninguém reparou?(…)”  

{Relicário – Nando Reis}

 Estou tendo esses dias, uma constatação preocupante. O mundo está de cabeça para baixo.MESMO. Desde o último fim de semana que a tal Kelly Cyclone foi assassinada,vejo jovens cultuando e endeusando uma criminosa. Como sempre falou minha mãe, ‘ quem anda com porcos,farelo come.’ O que esperar de alguém que postava fotos no orkut de armas,celulares e dinheiro,fruto de roubo e venda de drogas? O fim dela estava tão certo,quanto o final das novelas.Previsivel. Ela escolheu esse caminho.E pagou com a vida! Leio entrevistas nos jornais com a familia da Kelly, que parecem não entender a dimensão do envolvimento da garota com o submundo. Segundo entrevista no jornal, o pai dela disse que ‘ conversou’ diversas vezes com a filha e sabia que ela andava com gente que não prestava. Só que, ao invés da familia tomar uma atitude,preferiu jogar a culpa, como sempre ‘ nas amizades’. Ela foi levada pelos amigos.Ok, a culpa é do outro.Sempre. Nunca nossa. Quando é que os pais, serão pais de verdade? Quando vão educar seus filhos? Quando vão aprender a dizer NÂO, suficiente vezes para que eles aprendam? Penso que, se tantos jovens hoje são dados a marginalidade,é porque algo em casa não vai bem. Hoje em dia temos pais que geram filhos, às pencas. Mas não os educam. Os deixam jogados ao mundo, na rua até tarde, andando sabe-se lá com quem e fazendo sabe-se lá o que. Sabe por que ? Porque EDUCAR dá um trabalho enorme e muitas pessoas não tem tempo para isso. Certa vez, vi em algum lugar um reporter que perguntava : ‘ você sabe aonde e com quem, está seu filho, AGORA ?’ Pois é, deveriamos , ou melhor, temos a obrigação de saber. Filho é para a vida toda, e mesmo depois que os filhos se tornam adultos os pais continuam  a ter a responsabilidade de serem pais. Essa é uma responsabilidade eterna.

Cada vez que acesso os jornais locais e leio algo sobre o assunto,me assusto com o mundo que está vindo pela frente. Como alguém que era envolvida com algo que não prestava, tem ‘centenas de fãs’ que vão visitar o túmulo? Ela por algum acaso acabou com a fome, a pobreza ou erradicou o analfabetismo? Me enoja que os valores tenham mudado. E o pai de familia que trabalha o dia inteiro , ganha um salário de miseria para tentar dar uma vida digna para a familia, e é morto por pessoas como a Kelly Cyclone,que são envolvidas com tudo que existe de pior no mundo?

É completamente alarmante essa apologia que se faz a criminalidade. É um absurdo que tenham garotas e mulheres que queiram se vestir e ser ‘igual’ a Kelly. Aonde estão os pais dessas pessoas que não enxergam isso ?